segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Aviso aos navegantes V

Como dito anteriormente, é possível que ao longo das obras de Freud estudadas em nossa pesquisa, sejam encontrados equívocos quanto à tradução ou até mesmo quanto à escolha de palavras na descrição de conceitos. É válido e importante que destaquemos aqui quando, de fato, nos deparamos com situações como estas.
Recentemente, em nossas leituras atentas ao texto Pulsões e destinos da Pulsão (1915), pudemos perceber um sentido distorcido ou mal colocado na tradução da Edição Standard, sendo ela a única que apresenta em sua tradução esse sentido textual diferenciado. Tomemos este pequeno parágrafo como um todo: “a bem da inteireza, posso acrescentar que os sentimentos de piedade não podem ser descritos como sendo o resultado de uma transformação do instinto que ocorre no sadismo, mas carecem da ideia de uma formação de reação contra esse instinto” (Freud, 1915/1996, p. 134, grifos do autor).
Porém, o sentido da frase quando traduzida pela Edição Standard distorce o sentido que foi proposto por Freud. No original alemão encontramos este mesmo trecho como segue: “Der Vollständigkeit zuliebe füge ich an, daß das Mitleid nicht als e in Ergebnis der Triebverwandlung beim Sadismus beschrieben werden kann, sondern die Auffassung einer Reaktionsbildung gegen den Trieb erfordert” (FREUD, 1915/1999, p. 222, grifos do autor).
Adotaremos a tradução de Luiz Hanns para este trecho, pois pensamos que coincide com a escrita freudiana: “para não deixar esta exposição incompleta, devo acrescentar ainda algo sobre a compaixão e dizer que ela não pode ser descrita como um resultado da transformação pulsional ocorrida no sadismo; é preciso que a concebamos como uma formação reativa contra a pulsão” (Freud, 1915/2004, p. 154, grifos do autor)
Nosso ponto de discussão é a última oração do parágrafo. Na Edição Standard – mas carecem da ideia de uma formação de reação contra esse instinto; e na tradução de Luiz Hanns – é preciso que a concebamos como uma formação reativa contra a pulsão. Vemos que o sentido destas duas orações é absolutamente oposto. Na Edição Standard diz-se que a compaixão carece de uma formação reativa contra a pulsão, enquanto na tradução de Luiz Hanns diz-se que ela é a formação reativa contra a pulsão. Não apenas a tradução de Luiz Hanns, mas também as outras que utilizamos em nosso trabalho seguem esta mesma ideia, de que a compaixão é uma formação reativa contra a pulsão, o que concorda com o original alemão.

Assim, é importante que nos atentemos a esses detalhes que podem alterar todo o sentido dos nossos estudos, uma vez que a alteração de uma palavra ou talvez uma interpretação mal colocada pode transformar o texto, distanciando-se da proposta original. Nesse sentido, damos seguimento às leituras com muita atenção e um olhar diferenciado quanto as traduções.

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