quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Três barreiras à representação



A cada capítulo do artigo metapsicológico de Freud O Inconsciente (1915), nos deparamos com mais questões minuciosas que, se não nos debruçarmos com tranquilidade sobre os textos, não nos atentaremos à questões que são de fundamental importância para entendermos os conceitos fundamentais da psicanálise.
Agora, no capítulo VI percebemos alguns pontos que se referem, assim como o título do artigo, à comunicação entre os dois sistemas (Cs. e Ics). Neste capítulo Freud nos traz uma nova etapa que poderá interferir ou não na passagem da representação do Ics. para o Cs, passando pelo Pcs.
Até então sabíamos que quando a representação não era compatível com a Consciência, ela era recalcada, e retornava ao Ics. Então para retornar ao Cs. ela deveria se transformar , superar o recalque e só então se ligar novamente ao afeto. Para melhor ilustrar vejamos a seguir o chamado “esquema do pente” em que Freud elucida como é o caminho do estímulo que chega ao sujeito.




Dessa forma, chega-se primeiro ao Inconsciente, (o primeiro traço depois da percepção  e dos traços mnêmicos), depois  passa-se pelo Pré-consciente e só depois se chega à consciência. Entre o Ics. e o Pcs. fica a barreira do recalque. O que Freud trás de novo agora é que entre o Pcs. e o Cs. existe mais uma barreira, que ele chama de Censura.

Agora, passa a ser provável que haja uma censura entre o Pcs. e o Cs. Não obstante, faremos bem em não consideramos essa complicação como uma dificuldade, mas em presumirmos que, a cada transição de um sistema para o que se encontra imediatamente acima dele (isto é a cada passo no sentido de uma etapa mais elevada na organização psíquica), corresponde uma nova censura. [...] No tratamento psicanalítico fica provada, sem sombra de dúvida, a existência de uma segunda censura, entre os sistemas Pcs. e Cs.  (Freud, 1915/1974, p.219-220, grifos do autor).

Neste sentido Freud nos fala de uma segunda censura entre o Pcs. e o Cs, sendo que esta nos parece exercer uma função parecida com uma resistência, na qual, por meio de um grande esforço o paciente deve se empenhar para que tal censura não impeça que os derivados do Ics cheguem ao Cs.
Temos então três barreiras. Uma primeira entre o Ics e o Pcs que se chama recalque (Verdrängung); uma segunda entre o Pcs e o Cs que é a censura (Zensur); e uma outra externa ao sujeito, muito mais próxima de questões sociais e culturais – a repressão (Unterdrückt). Cada uma delas parece cumprir um papel diferente.

Mais adiante Freud nos trás uma outra questão: “Constitui fato marcante que o Ics. de um ser humano possa reagir ao de outro, sem passar através do Cs.”  (Freud, 1915/1974, p.219-220). Aqui e em outros pontos de sua obra ele nos traz  sua concepção de que o Ics. está dentro de cada sujeito, é individual, e esse Ics. pode afetar o de outra pessoa. Jacques Lacan, no que se refere ao Inconsciente constrói outra conceituação, e um dos atributos do Inconsciente em Lacan é que ele é estruturado como uma linguagem, e tem um caráter transindvidual, mas isso é assunto para outro momento.