terça-feira, 31 de outubro de 2017

A pulsão para além do princípio do prazer


Após diversas discussões acerca do texto freudiano Pulsões e destinos da pulsão (1915), utilizaremos o texto Além do princípio do prazer (1920) como complemento para o nosso estudo. O é do período de transição para a segunda tópica de Freud, e nele serão inseridos conceitos como pulsão de vida e pulsão de morte. Devido à extensão de tal texto, serão utilizados apenas fragmentos do mesmo, destacando-se as passagens que estão mais próximas e de acordo com nosso tema.
Nesse sentido, Freud utiliza-se de conceitos da biologia e de observações clínicas para fundar a ideia de compulsão à repetição, a qual remete a processos mentais característicos da infância e de eventos no tratamento psicanalítico. A repetição, no entanto, constitui-se como fonte de prazer. A partir de tais considerações, Freud propõe que o impulso de restaurar aquilo que foi perdido é comum de todos os seres vivos, sendo o componente pulsional um impulso inerente à vida orgânica, que tem por objetivo “restaurar um estado anterior das coisas, impulso que a entidade viva foi obrigada a abandonar sob pressão de forças perturbadoras externas” (Freud, 1920/1996, p. 47).
Tal estado anterior seria, portanto, a morte, pois “as coisas inanimadas existiram antes das vivas” (Freud, 1920, p. 49). Não obstante, assim como existem pulsões que nos direcionam a um estado inorgânico, há também aquelas que preservam a vida por um maior período de tempo, seja no nível do Eu (pulsões de autopreservação) ou da espécie (pulsão sexual). Nesse sentido, as pulsões de conservação objetivam estender o caminho entre os dois pontos inanimados – aquele anterior ao nascimento e o posterior à morte.
Durante o texto, Freud irá adentrar em tais conceitos de forma detalhada e explicativa, a fim de demonstrar que existem componentes psíquicos que se tornam uma exceção à regra e trabalham para além do princípio do prazer, o que será discutido posteriormente em nosso blog.

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

As polaridades e suas relações

Partindo das três antíteses de nossa postagem anterior, vejamos com mais atenção duas destas polaridades. Visto que tais polaridades se relacionam de forma significativa, há também um momento no qual elas se encontram e se satisfazem. Nesse momento, quando o eu é investido pelas pulsões, nos deparamos com o narcisismo – a satisfação se dá de uma maneira auto erótica; não há um menor interesse no mundo externo, sendo nele depositado tudo o que for considerado desagradável, enquanto que o eu se identifica numa relação de amor com tudo o que é agradável ao sujeito.



 Mesmo que o mundo externo se torne inútil para o sujeito em sua condição auto erótica, alguns objetos desse mundo trazidos pelas pulsões autopreservativas podem ser interpretados como desagradáveis nesse momento. “Quando a fase puramente narcisista cede lugar à fase objetal, o prazer e o desprazer significam relações entre o eu e o objeto” (Freud, 1915/1996, p. 141). Assim, o sujeito toma para si os objetos que se apresentam como fonte de prazer enquanto expulsa o que, mesmo interno, se configura como causa de desprazer; o eu da realidade se torna então um eu do prazer, no qual o prazer é o único critério de relevância. No eu do prazer, então, o mundo externo se configura como algo que lhe é agradável (e que é incorporado a ele mesmo) e algo que é desagradável (que causa estranheza e afastamento), fazendo novamente com que as polaridades se relacionem; no sentido de que o eu está assimilado com o prazer, e o mundo externo com o desprazer.
Podemos associar a polaridade amor-ódio à polaridade prazer-desprazer, que se dá a partir da relação do sujeito com o objeto.



Se amamos um objeto o tornamos parte de nós mesmos, mas em contrapartida se ele nos causa sensações desagradáveis há uma repulsa e um ódio direcionados a ele. Porém é comum que, pela linguagem coloquial, aconteça de não nos referenciarmos aos objetos de autopreservação com um sentimento de amor, mas sim de necessidade, fazendo com que a palavra amar se distancie cada vez mais para um lugar entre a relação de prazer do sujeito e objeto e se aproxime relativamente das pulsões sexuais, tornando necessária certas distinções e considerações quanto ao uso da palavra amor e às pulsões que se relacionam a ela.