quinta-feira, 13 de setembro de 2018

O corretor de seguros e o pastor: O impossível do amor transferêncial


Após considerar o enamoramento para com a figura do analista, Freud apresenta um cenário no qual paciente e analista estariam livres para se enamorar: Ele nos convida a reflexão: “O que aconteceria se o médico se comportasse diferentemente e, supondo que ambas as partes fossem livres, se aproveitasse dessa liberdade para retribuir o amor da paciente e acalmar sua necessidade de afeição?” (FREUD 1915[1914]/1996, p.182).

Freud aponta que se o objetivo do médico fosse ter domínio sobre a paciente e a partir daí liberá-la de suas neuroses, o tratamento demonstraria que seu objetivo é errôneo. A paciente pelo contrário alcançaria seu objetivo, teria o amor de seu médico, uma atuação bem-sucedida. Logo, ele não chegaria no objetivo da análise, mas ela sim. Freud aponta a história do corretor de seguros e do pastor: “O corretor de seguros, livre pensador, estava à morte e seus parentes insistiram em trazer um homem de deus para convertê-lo antes de morrer. A entrevista durou tanto tempo que aqueles que esperavam do lado de fora começaram a ter esperanças. Por fim, a porta do quarto do doente se abriu. O livre pensador não havia sido convertido, mas o pastor foi embora com um seguro” (FREUD, 1915[1914]/1996, p.183).

Freud aponta que apesar dos avanços da paciente na análise, no caminho ulterior do relacionamento amoroso, ela expressaria as inibições e reações patológicas de sua vida erótica, sem a capacidade de corrigi-la, terminando em um grande remorso e fortalecendo ainda mais o seu recalque.

“O relacionamento amoroso, em verdade, destrói a suscetibilidade da paciente à influência do tratamento analítico. Uma combinação dos dois seria impossível” (FREUD, 1915[1914]/1996, p.183).

Logo o analista deve criar um caminho diferente dentro do processo analítico, que não seja satisfazer ou suprimir o amor transferencial. Deve criar um caminho que não existe modelo na vida real. Deve manter o domínio sobre o amor transferencial, controlá-lo ao ponto que seja percebido, mas tratado como irreal, uma relação impossível, só assim o tratamento será conduzido como sucesso. 

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