quinta-feira, 27 de julho de 2017

O caminho na diferenciação das pulsões

Visto que a diferenciação e a classificação das pulsões não podem facilmente se dar a partir da elaboração do material psicológico, a biologia tem a contribuição de, nesse sentido, relacionar as pulsões – sendo o indivíduo o ponto principal, uma vez que ele age satisfazendo suas necessidades biológicas ele estaria também a serviço da conservação da espécie.
Considerando que as pulsões sexuais eram vistas como o único grupo possível de uma observação isolada (nas psiconeuroses), podemos dizer que são “numerosas, emanam de grande variedade de fontes orgânicas, atuam em princípio independentemente uma da outra e só alcançam uma síntese mais ou menos completa numa etapa posterior” (Freud, 1915/1996, p.131).

Assim, a meta aspirada por cada uma é o ‘prazer do órgão’ (esse prazer sendo ligado à um órgão específico do corpo), e somente após alcançar uma síntese é que serão identificadas com as funções reprodutoras, caracterizando assim as pulsões sexuais. Essas pulsões, em seu surgimento, estão ligadas à autopreservação (à uma necessidade), sendo a sua diferenciação feita a partir da sua separação e também da sua escolha objetal.
Elas se distinguem principalmente pela possibilidade de agirem umas pelas outras, sendo possível também uma mudança de objeto e assim, ser capazes de funções que não se apresentavam diretamente em suas intenções originais, ou seja, capazes da sublimação.
Os destinos pelos quais as pulsões passam no decorrer da existência do indivíduo nas pesquisas freudianas se limitam às pulsões sexuais (que são mais familiares). Visto isso, os destinos que elas podem atingir são: reversão a seu contrário, retorno em direção à própria pessoa, recalque e sublimação.
A segunda opção, retorno em direção à própria pessoa, é curiosamente traduzida na Edição Standard brasileira como retorno em direção ao próprio eu (self) do indivíduo. No original, Freud escreve: “Die Wendung gegen die eigene Person“, frase na qual não encontramos as palavras eu [Ich], self [selbst] ou indivíduo [Individuum]. Lembrando que o Eu é um conceito em Freud e o self é um conceito em Jung. A versão brasileira então apenas gera confusão, afastando-se do texto de Freud, que trata simplesmente da pessoa.

A partir desses pontos, aprofundaremos o nosso estudo considerando esses destinos e a forma que a pulsão atua em cada um deles. 

2 comentários:

  1. Muito importante chamar a atenção para as traições da tradução da obra.

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  2. Obrigado pelo comentário Alexandre. nossa ideia é justamente buscar o mais próximo possível o sentido original de Freud. continue nos acompanhando. abraços,

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