Uma
situação que Freud notou ser comum, digna de nota e que perdura até hoje, é a
paciente se apaixonar, declaradamente ou não, pelo seu analista [até então, apenas
homem e médico]. Diante dessa situação, leigos daquela época, diriam que existem duas saídas
possíveis: que se forme devidamente um casal, e analista e paciente encontrem
formas legais de se unir e permanecer juntos; e a segunda e mais provável, o
tratamento é interrompido e o trabalho é abandonado.
O
próprio autor traz um terceiro caminho que até seria compatível com o
tratamento mas se vê impossível por causa da moralidade e dos padrões
profissionais: paciente e analista iniciariam um relacionamento amoroso
proibido e que não duraria para sempre. Mas como Freud disse, é uma alternativa
impossível e que é claro que um psicanalista tem de encarar as coisas de um
ponto de vista diferente.
Ao
se tomar o segundo desfecho como referência, após a separação entre paciente e
analista, é bem provável que o estado da paciente obrigue-a a procurar outro
analista e partir daí se enamore por ele também, e assim por diante,
indefinidamente. Esse acontecimento é um dos fundamentos da Psicanálise e pode
ser avaliado tanto pelos olhos da paciente como do analista.
Do
ponto de vista do analista, Freud diz se tratar de um esclarecimento valioso e
útil ao tratamento, e adverte:
“Ele deve reconhecer que o
enamoramento da paciente é induzido pela situação analítica e não deve ser
atribuído aos encantos de sua própria pessoa; de maneira que não tem nenhum
motivo para orgulhar-se de tal ‘conquista’, como seria chamada fora da análise.
E é sempre bom lembrar-se disto.” (Freud, 1914/1996)
Já
do ponto de vista da paciente, ela sempre terá a alternativa de abandonar o
tratamento ou de aceitar que se apaixonara pelo seu médico como algo que não se
pode lutar contra.
Freud
ressalta que, apesar das inúmeras possíveis interferências de terceiros nessa
situação, o bem estar da paciente sempre será a pedra angular do tratamento.
Uma vez que esse amor, se analisado, serviria para o restabelecimento da
paciente, até então, enamorada e ainda necessitada de seu médico. A espontaneidade
da situação tem muito a oferecer ao tratamento se manejada da melhor forma
possível. O manejo correto dessa situação, em sua singularidade, é, sem sombra
de dúvida, o que deve ficar como instrução e técnica no método analítico até
aqui e a partir daqui.
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