sábado, 31 de março de 2018

Aviso aos navegantes VI... pagando dívidas antigas


Olá a todos,
Ficamos devendo no ano anterior, quando estudávamos o texto freudiano sobre a Pulsão, uma pequena apresentação para a nossa série “Aviso aos navegantes”. Esta é bastante interessante por dois pontos:
·   Primeiro não é um erro de tradução que ocorreu entre o alemão e o inglês, mas sim entre o inglês e o português, ou seja, é um erro da versão brasileira, sob supervisão de Jayme Salomão;
·    Segundo que é um erro de tradução da nota do editor inglês, James Strachey, e não do texto freudiano.
Vejamos. No terceiro parágrafo da nota do editor ingles, bem ao fim da página 117 e início da página 118 da edição de 1996, encontramos a seguinte frase: “ele [Freud] descreve instinto como sendo ‘um conceito situado na fronteira entre o material e o somático’”.
Bem, não entraremos na questão da tradução do Trieb por instinto, mas focaremos em outro ponto – a fronteira entre o material e o somático. É absolutamente estranho. Freud sempre dizia que a pulsão é o conceito limite entre o anímico e o somático. Mas entre o material e o somático? No texto freudiano original, nas três vezes em que esta frase surge encontramos sempre algo como “Wir fassen den Trieb als den Grenzbegriff des Somatischen gegen das Seelische” com pequenas modificações. Nesta frase Seelische seria o anímico e Somatischen o somático.
Na versão inglesa de James Strachey, na página 112 da edição de 1986, a frase que consta na nota do editor, referente ao trecho que citamos diz: “he [Freud] describe an instict as ‘a concept on the frontier between the mental and the somatic’”, no que podemos ver claramente o mental e o somático.
A versão espanhola da Amorrortu, na página 108 da versão de 1992, diz “define a la pulsión como ‘un concepto fronterizo entre lo anímico y lo somático’”
O que temos então é que apenas na versão brasileira encontramos um erro grosseiro de tradução, não apenas mudando o anímico para o mental, o que poderia ser uma escolha ruim de tradução, mas mudando o mental para o material, o que é inadmissível.
É interessante que a versão do Luiz Hanns, tão cuidadosa com a escrita freudiana, cai no mesmo erro da tradução brasileira, apenas copiando o erro de tradução da Edição Standard Brasileira.
Bem, é isso. Abraços a todos




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