Partindo das três antíteses de nossa
postagem anterior, vejamos com mais atenção duas destas polaridades. Visto que tais
polaridades se relacionam de forma significativa, há também um momento no qual
elas se encontram e se satisfazem. Nesse momento, quando o eu é investido pelas
pulsões, nos deparamos com o narcisismo – a satisfação se dá de uma maneira auto
erótica; não há um menor interesse no mundo externo, sendo nele depositado tudo
o que for considerado desagradável, enquanto que o eu se identifica numa
relação de amor com tudo o que é agradável ao sujeito.
Mesmo que o mundo externo se torne
inútil para o sujeito em sua condição auto erótica, alguns objetos desse mundo
trazidos pelas pulsões autopreservativas podem ser interpretados como desagradáveis
nesse momento. “Quando a fase puramente narcisista cede lugar à fase objetal, o
prazer e o desprazer significam relações entre o eu e o objeto” (Freud,
1915/1996, p. 141). Assim, o sujeito toma para si os objetos que se apresentam
como fonte de prazer enquanto expulsa o que, mesmo interno, se configura como
causa de desprazer; o eu da realidade se torna então um eu do prazer, no qual o
prazer é o único critério de relevância. No eu do prazer, então, o mundo
externo se configura como algo que lhe é agradável (e que é incorporado a ele
mesmo) e algo que é desagradável (que causa estranheza e afastamento), fazendo
novamente com que as polaridades se relacionem; no sentido de que o eu está
assimilado com o prazer, e o mundo externo com o desprazer.
Podemos associar a polaridade amor-ódio
à polaridade prazer-desprazer, que se dá a partir da relação do sujeito com o
objeto.
Se amamos um objeto o tornamos parte de
nós mesmos, mas em contrapartida se ele nos causa sensações desagradáveis há
uma repulsa e um ódio direcionados a ele. Porém é comum que, pela linguagem
coloquial, aconteça de não nos referenciarmos aos objetos de autopreservação
com um sentimento de amor, mas sim de necessidade, fazendo com que a palavra
amar se distancie cada vez mais para um lugar entre a relação de prazer do
sujeito e objeto e se aproxime relativamente das pulsões sexuais, tornando
necessária certas distinções e considerações quanto ao uso da palavra amor e às
pulsões que se relacionam a ela.
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