Como
dito anteriormente, é possível que ao longo das obras de Freud estudadas em
nossa pesquisa, sejam encontrados equívocos quanto à tradução ou até mesmo
quanto à escolha de palavras na descrição de conceitos. É válido e importante
que destaquemos aqui quando, de fato, nos deparamos com situações como estas.
Recentemente,
em nossas leituras atentas ao texto Pulsões
e destinos da Pulsão (1915), pudemos perceber um sentido distorcido ou mal
colocado na tradução da Edição Standard,
sendo ela a única que apresenta em sua tradução esse sentido textual
diferenciado. Tomemos este pequeno parágrafo como um todo: “a bem da inteireza,
posso acrescentar que os sentimentos de piedade não podem ser descritos como
sendo o resultado de uma transformação do instinto que ocorre no sadismo, mas
carecem da ideia de uma formação de
reação contra esse instinto” (Freud, 1915/1996, p. 134, grifos do autor).
Porém,
o sentido da frase quando traduzida pela Edição
Standard distorce o sentido que foi proposto por Freud. No original alemão encontramos este mesmo trecho como
segue: “Der Vollständigkeit zuliebe füge
ich an, daß das Mitleid nicht als e
in Ergebnis der Triebverwandlung beim Sadismus beschrieben werden kann, sondern
die Auffassung einer Reaktionsbildung
gegen den Trieb erfordert” (FREUD, 1915/1999, p. 222, grifos do autor).
Adotaremos
a tradução de Luiz Hanns para este trecho, pois pensamos que coincide com a
escrita freudiana: “para não deixar esta exposição incompleta, devo acrescentar
ainda algo sobre a compaixão e dizer
que ela não pode ser descrita como um resultado da transformação pulsional
ocorrida no sadismo; é preciso que a concebamos como uma formação reativa contra a pulsão” (Freud, 1915/2004, p. 154, grifos
do autor)
Nosso
ponto de discussão é a última oração do parágrafo. Na Edição Standard – mas carecem da ideia de uma formação de reação contra esse instinto; e na tradução de Luiz
Hanns – é preciso que a concebamos como uma formação
reativa contra a pulsão. Vemos que o sentido destas duas orações é
absolutamente oposto. Na Edição Standard
diz-se que a compaixão carece de uma formação reativa contra a pulsão, enquanto
na tradução de Luiz Hanns diz-se que ela é a formação reativa contra a pulsão.
Não apenas a tradução de Luiz Hanns, mas também as outras que utilizamos em
nosso trabalho seguem esta mesma ideia, de que a compaixão é uma formação
reativa contra a pulsão, o que concorda com o original alemão.
Assim,
é importante que nos atentemos a esses detalhes que podem alterar todo o
sentido dos nossos estudos, uma vez que a alteração de uma palavra ou talvez uma
interpretação mal colocada pode transformar o texto, distanciando-se da
proposta original. Nesse sentido, damos seguimento às leituras com muita atenção
e um olhar diferenciado quanto as traduções.
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