Apenas a título de ilustração, cabe
lembrar que a palavra usada por Freud para o que conhecemos como Neurose Obsessiva é Zwangsneurose, que literalmente, deveria ser traduzia por Neurose Coerciva (de Zwang – coerção, coação). A tradução
desta palavra (Zwang) por obsessão ou
por compulsão se deveu às escolas inglesa e francesa de psiquiatria,
respectivamente. Entretanto nenhuma das duas palavras apresenta a principal
característica do pensamento daqueles que costumamos chamar de Neurótico
obsessivo – a obrigatoriedade do pensamento, a sensação de ser coagido, de ter
que pensar coercitivamente. Um pequeno exemplo para nos ajudar a entender.
Normalmente não agimos agressivamente contra um amigo, mas imaginem a situação:
uma pessoa coloca uma arma em sua cabeça e lhe diz para agredir fisicamente um
amigo que se encontra à sua frente. Ainda que você não queira, você acaba por
fazê-lo. Esta é a ideia de coerção incluída na palavra alemã, esta é a forma
como o pensamento do obsessivo acontece. De toda forma, manteremos a tradução Neurose Obsessiva, posto que esta se
estabeleceu no meio psicanalítico brasileiro.
Agora, partiremos para a terceira e
última forma de recalque que Freud nos apresenta no texto O recalque (1915/1974), sobre a neurose obsessiva. Freud no início
do trecho sobre a neurose obsessiva (p.180) vem nos dizer de sua dúvida, se o
que é recalcado é um anseio sádico ou hostil do representante, e ao longo do
texto nos apresenta que na verdade um anseio sádico entrou no lugar de um
anseio amoroso, e é exatamente este anseio hostil contra uma pessoa amada que
sofre o recalque.
Freud coloca que em um primeiro momento
o recalque tem sucesso absoluto, pois o conteúdo da representação é recusado (abgewiesen) e o afeto desaparece (Verschwinden). O Eu se altera devido a
uma formação substitutiva e há um aumento de conscienciosidade, o que não pode
ser chamado de sintoma. O que podemos notar então é que Freud distingue
formação substitutiva de sintoma. O que vemos nesse caso é que o mecanismo do
recalque coincide com o da formação reativa, mas difere temporal e
conceitualmente da formação de sintoma.
Após este primeiro momento, o sucesso
que parecia certo não se mantém. A ambivalência que permitiu o recalque por
meio da formação reativa é o mesmo ponto que permite àquilo que foi recalcado
retornar.
A representação recusada volta agora
como um substituto por deslocamento, e
o fracasso do fator afetivo retorna como evitações e proibições, como discutimos
anteriormente sobre as fobias histéricas (ver postagem sobre O recalque na histeria de medo), ainda
que haja uma tendência de que tal representação retorne completa e intacta. De
toda forma, à representação é recusado o acesso ao Consciente, o que promove o
impedimento da ação, travando o impulso motor. O recalque na neurose obsessiva
é, portanto, um fracasso que resulta em uma luta sem êxito nem fim.
O pensar obsessivo é caracterizado por distorções.
O obsessivo fica absorto na esfera do pensamento e acaba procrastinando a
descarga da tensão através de longos processos de ruminação. Apresenta em seu
discurso o deslocamento de afeto de uma representação para outra, já que
grandes males o aguardam caso a sua ação não seja simétrica aos padrões de seu pensamento.
Entra aqui em cena o processo de Inibição,
que nada mais é do que a inibição da descarga motora da pulsão. Pensando no
famoso esquema do pente (ver a postagem sobre as Três barreiras à representação), o processo se interrompe sem
chegar ao fim, a descarga motora.
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