Na
segunda parte do texto 'O inconsciente' ([1915]1969), Freud vem nos falar sobre
o ponto de vista topográfico desse conceito, apresentando o inconsciente como
algo que poderia ser interno a cada um de nós.
Conforme
observado, existem atos psíquicos que possuem os valores inconstantes, correspondendo
às características de serem inconscientes. Desse modo, Freud nos diz que uma
parte do inconsciente abrange atos que são somente latentes, apresentando-se
temporariamente inconscientes, mas que não diferem em nenhuma outra forma dos
atos conscientes. Em contrapartida, abarca processos recalcados que, se viessem
à consciência, estariam predispostos a ressaltar uma discrepância mais
grosseira em relação aos outros processos conscientes.
Com
o intuito de esclarecer essas explicações, Freud sugere que os atos conscientes
e inconscientes devam ser classificados levando em conta a relação com as
pulsões e as finalidades da sua composição. Porém, ressalta que isso seria
inviável pois, não há como escapar dessa ambiguidade consciente / inconsciente,
tendo em vista que ora elas são empregadas com o sentido descritivo e ora com o
sentido sistemático.
A
partir de tal confusão, ele emprega as siglas Cs para se referir a consciência (Bewußtsein – consciência; diferente de Bewußt – consciente) e Ics
para àquilo que seria inconsciente, isto é, quando estiver usando as duas
palavras para se referir ao sentido sistemático do sistema psíquico.
Os
atos psíquicos passam por dois tipos de fases, sendo que são interpostas por
uma espécie de barreira (censura).
Na primeira fase, o ato psíquico
é inconsciente e pertence ao sistema Ics;
se, no teste, for rejeitado pela censura, não terá permissão para passar à
segunda fase; diz-se então que foi ‘recalcado’, devendo permanecer
inconsciente. Se, porém, passar por esse teste entrará na segunda fase e,
subsequentemente, pertencerá ao segundo sistema, que chamaremos de sistema Cs. (Freud, [1915] 1969, p. 178).
Sendo
assim, Freud volta a confirmar o que foi dito na introdução de ‘O inconsciente’,
dizendo que o recalcado é apenas uma parte do inconsciente, de modo que o que
foi recalcado, não sendo permitido passar pela censura deve permanecer em um
estado latente. Porém, embora ainda não seja consciente, ele é capaz de se tornar consciente sem qualquer
resistência. Levando em consideração essa capacidade, o sistema Cs pode também ser denominado de
‘pré-consciente’ (Pcs) partilhando das
mesmas características. Assim a censura determina a transição do que é Ics para o Pcs.